Do site Portal 2014, artigo de Cezar Taurion(*).
Desde o ano passado, venho debatendo com gestores públicos em diversos eventos e reuniões a questão da transformação das cidades em cidades inteligentes. As prioridades de cada cidade são diferentes, mas de maneira geral encontramos quatro focos de melhorias que têm potencial para provocar impactos significativos no bem-estar da população.
Os quatro pontos mais comuns encontrados nas cidades brasileiras de grande porte são a redução dos congestionamentos e melhoria dos sistemas de transporte públicos, a melhoria na segurança pública, com redução dos índices de criminalidade, a melhoria nos serviços de saúde e educação, e melhores facilidades e funcionalidades na disponibilização dos serviços públicos aos cidadãos.
Entretanto, muitas vezes debatem-se estas questões minimizando-se seus impactos econômicos, que são enormes. Neste artigo, vou situar estas questões sob a ótica econômica para vermos como, por exemplo, um trânsito congestionado afeta negativamente a economia, enquanto um trânsito que flui com rapidez, apoiado por um eficiente sistema de transporte público, aumenta significativamente a produtividade e funciona como um polo de atração para criação de novos negócios.
Isso é particularmente aplicável para as cidades que vão sediar a Copa do Mundo de 2014, que vão vivenciar fluxos de tráfego anormais durante os jogos, mas que podem ter nos turistas fontes de novos negócios e receitas.
O trânsito, cada vez mais congestionado nas grandes e, até mesmo, nas médias cidades brasileiras, é um ponto que aparece com destaque nos debates. Um trânsito que flui adequadamente e um eficiente serviço de transporte público de massa têm influencia significativa na economia.
"Um trânsito congestionado afeta negativamente a economia, enquanto um trânsito que flui com rapidez aumenta significativamente a produtividade"
Este lado econômico passa despercebido, mas um trânsito eficiente permite deslocamento mais rápido dos funcionários para seus locais de trabalho, aumentando a sua produtividade, bem como diminui sensivelmente os custos das operações logísticas. Como resultante, temos melhoria na qualidade de vida da população, uma maior produtividade econômica e menos poluição.
Para dar uma ideia de como os congestionamentos têm um custo muito alto para a economia, algumas estimativas apontam que eles chegam a custar 4% do PIB da cidade em Manila (Filipinas), 2,6% na Cidade do México e 2,4% em São Paulo. Nos Estados Unidos, os dados indicam que o tempo desperdiçado em congestionamentos chega a 4,2 bilhões de horas, com uma perda econômica em produtividade de cerca de U$ 87 bilhões.
O trânsito acarreta também outros custos impactantes, quando se estima que acontecem, por ano, em todo o mundo, cerca de 50 milhões de acidentes nas estradas com uma perda em vidas humanas ultrapassando a 1,2 milhão de pessoas. Com o crescimento econômico dos países, a situação tende a piorar. São Paulo, por exemplo, emplaca cerca de 1.000 novos veículos por dia. Em algumas cidades da Índia, como Mumbai, Delhi e Bangalore, o trânsito cresce quatro vezes mais rápido que a população.
Por outro lado, um trânsito mais eficiente tem impacto positivo na economia dos países e das cidades. Um recente estudo efetuado no Reino Unido mostrou que uma redução de 5% no tempo das viagens nas estradas poderia se traduzir em uma redução de custos de 2,5 bilhões de libras ou perto de 0,2% do PIB.
Outros pontos também têm impactos significativos na economia. Uma cidade considerada segura atrai o turismo e a criação de novos empreendimentos. Um sistema educacional adequado atrai trabalhadores com maior habilidade, ampliando a oportunidade de criação de novos negócios de maior valor agregado. Por outro lado, alguns estudos demonstram claramente que cidades consideradas inseguras não atraem investimentos estrangeiros e desestimulam a criação de negócios “skill-intensive”, que são os mais atrativos economicamente.
"Congestionamentos chegam a custar 4% do PIB da cidade em Manila (Filipinas), 2,6% na Cidade do México e 2,4% em São Paulo"
Portanto, dar os passos na direção de se tornar uma cidade inteligente passa por compreender que os problemas atuais podem ser –eles mesmos– impeditivos do crescimento econômico, criando um círculo vicioso. A criação de uma cidade inteligente obriga a gestão pública a ter uma perspectiva integrada dos principais sistemas que compõem uma cidade, como trânsito, segurança pública, saúde e educação.
Um trânsito eficiente e mais seguro não apenas reduz o congestionamento, mas melhora a saúde da população pela redução da emissão de dióxido de carbono e diminui o número de acidentes. Isto implica em uma maior produtividade da economia e abre oportunidades para criação de novos negócios, como no setor de entretenimento. Já vimos dados que mostram que, em algumas cidades, a redução dos congestionamentos implicou em um aumento nas vendas do comércio.
Um grande aliado neste processo de transformação para uma cidade inteligente é a tecnologia, cada vez mais ubíqua. Uma cidade instrumentada e conectada, que obtém e analisa dados do seu dia a dia, como fluxo de veículos, identificação dos pontos de maior criminalidade, situação de utilização dos leitos hospitalares etc., agindo diretamente na correção dos problemas – ou melhor, agindo preventivamente para evitar que tais problemas ocorram–, é sim, uma cidade inteligente.
*Cezar Taurion é economista, mestre em Ciências da Computação e gerente de Novas Tecnologias da IBM
FONTE: POTAL 2014.
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