Futebol é a grande paixão do povo brasileiro. Mesmo as pessoas menos afinadas com o esporte, sempre há um time pelo qual se tem simpatia e acaba torcendo. E a torcida pelo time do coração muitas vezes chega a ser exaltada, exagerada, com toda a adrenalina possível durante a disputa da partida, seja com um simples adversário, seja por um clássico do futebol, com o principal rival.
Por isso é que se diz: Religião e Futebol não se discutem.
O texto abaixo, escrito por Milton Jung e publicado em seu blog, mostra um pouco da essência da paixão do torcedor por seu time. Não é preciso ser gremista, como o autor, para entender que cada um, de maneira pessoal, tem seu jeito de ver e sentir as emoções do futebol, contudo com o devido respeito ao próximo e a plena consciência das particularidades que este esporte pode proporciona em nossas emoções.
Avalanche Tricolor: Carta ao meu filho.
(Por Milton Jung)
Meu filho,
Ter nascido em São Paulo te fez ficar distante do Rio Grande. Em teus 13 anos de vida, poucas vezes estivemos juntos naquela terra. Quando estamos lá, preferimos a tranquilidade da casa do tio, o bate-papo ao lado da churrasqueira, uma tímida roda de chimarrão – aquela erva que tu não gostas de tomar por amargo que é.
Já ouviste o pai cantarolando desafinado o refrão do Hino Riograndense: ‘Sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra’. Até já falamos sobre a Guerra Farroupilha quando sentamos juntos para estudar história do Brasil. Mesmo assim, não deves ter compreendido bem o que a letra pretendia celebrar. Isto é algo que está enraizado nas conquistas e derrotas daquela gente. Creio que só mesmo tendo nascido ali nas redondezas para compreender por completo o que move os gaúchos.
Hoje, quando tu vistes o pai reclamando sozinho de um jogador que perdia a dividida, do outro que era lento no momento de distribuir a bola e daqueles todos que preferiram por algum tempo assistir ao adversário jogar futebol, tudo isso acontecendo enquanto o placar mostrava ampla desvantagem, deves ter ficado incomodado comigo. Preferistes dormir sob a justificativa de que “amanhã tenho aula cedo” quando na verdade não querias ver o pai sofrendo diante da televisão nem amargando uma derrota clamorosa como muitos anunciavam na transmissão, e nas mensagens enviadas pelo Twitter, também.
Tu não sabes o que estavas perdendo. Não chegou a ser aquela façanha da 2a. Divisão quando tu me vistes chorando (que a mãe não leia isso aqui), mas foi divino mais uma vez. O Grêmio, time pelo qual teu pai resolveu se apaixonar mostrou que não é apenas forte, aguerrido e bravo. É veloz, talentoso e heróico.
Tu perdestes a chance de ver nossa defesa e meio de campo marcando cada bola que se aproximava da área como se fosse a última, além da rapidez com que nossos jogadores trocavam passe em direção ao ataque. Não vistes, também, os três gols do Borges, que deu até cambalhota, e o golaço do Jonas. Nem mesmo o que fez o Silas que, novamente, mudou o time no intervalo, na conversa, e festejou cada conquista como um novo torcedor a beira do gramado.
Teu pai vibrou em silêncio pra não acordar ninguém em casa. Comemorou com os punhos cerrados repetindo o gesto de Vitor a cada gol marcado. Queria, porém, estar ao teu lado, pulando e te abraçando, compartilhando a alegria e o orgulho de ser gremista. Mas longe de mim querer te contaminar com esta coisa do futebol, és bem mais inteligente do que eu e sabes que tens coisas mais importantes para construir na tua vida.
Queria, porém, que tu soubesses que este Grêmio, pelo qual escolhi torcer, não é chamado de Imortal Tricolor porque nunca perde. Fomos e seremos derrotados pois assim é o futebol. Talvez até mesmo na próxima semana, quem vai saber? Desta vez temos um adversário à altura. São estas intempéries que forjam nosso caráter.
Nossa imortalidade existe porque, por mais respeito que tenhamos por quem nos enfrenta, jamais nos daremos por vencidos e lutaremos sempre até o fim.
Do pai
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