Hoje, 30 de abril de 2010, a Prefeitura de Manaus estar entregando para a população a nova Praça da Saudade, totalmente recuperada e restaurada e seu traçado original, datado de 1932. É um momento muito importante para a cidade, pois estamos presenciando o resgate de um espaço público que no decorrer dos anos havia sido descaracterizado, com muitas intervenções que tiraram sua beleza e a sua importância histórica perante a cidade.
Em relação ao resgate da Praça da Saudade, tudo começou em 2006. Naquele ano, o Senador Jefferson Péres já vinha lutando para que o prédio que havia sido construído na praça em frente ao Rio Negro Clube fosse demolido. Este assunto acabou virando processo administrativo no Ministério Público, que envolveu Prefeitura de Manaus e Governo do Estado, chegando-se a conclusão de que não bastava a demolição do prédio, havia toda a necessidade de realizar o resgate histórico da praça.
Desta forma, formou-se uma equipe de técnicos envolvendo profissionais do Instituto Municipal de Planejamento Urbano – IMPLURB, da Prefeitura de Manaus, e da Secretaria Estadual de Cultura – SEC, do Governo do Estado do Amazonas.
Esta equipe técnica possui o grande mérito de ter elaborado um projeto de revitalização da praça que buscava o resgate histórico do espaço urbano, que foi aprovado pelo Prefeito na época, Serafim Correa, pelo Senador Jefferson Péres e submetido à discussão em audiência pública, sendo aprovado enfim por todos os envolvidos no processo.
Após conclusão dos projetos arquitetônicos e urbanísticos, o passo seguinte foi a demolição do prédio, que ocorreu sem grandes polêmicas. Mediante convênio com a SUFRAMA, a verba necessária para a revitalização da praça foi destacada, com a devida contrapartida da Prefeitura. Por fim, inicia-se a obra em que mais de 99% de sua área seria demolida, uma vez que apenas o monumento de Tenreiro Aranha seria preservado.
Às 19:00h do dia de hoje, o atual Prefeito de Manaus, Amazonino Mendes, inaugura a nova Praça da Saudade, revitalizada, revigorada, resgatada, regenerada, retratando o desenho que ela possuía na época em que foi concebida, em 1932. Todos os méritos ao saudoso Senador Jefferson Péres, ao ex-prefeito Serafim Correa, ao Ministério Público, a SUFRAMA, ao atual prefeito Amazonino Mendes, a SEMINF e equipe, e, sendo o mais justo merecimento, à equipe técnica do IMPLURB e SEC que concebeu o resgate da Praça da Saudade dentro dos preceitos de restauro urbano, que hoje é entregue para a população.
REGISTRO ICNOGRÁFICO DA PRAÇA DA SAUDADE
EQUIPE TÉCNICA DO IMPLURB/SEC (2006)
PRAÇA DA SAUDADE, ANTES DO RESGATE HISTÓRICO
Publico abaixo um pouco de história, retirado do blog do Carlos Zamith, que resgata a memória da Praça da Saudade, de 1865 até nossos dias atuais.
PRAÇA DA SAUDADE (www.bauvelho.com.br)
A Praça da Saudade foi inaugurada em 1865 e inicialmente era conhecida como Largo da Saudade. Seus limites eram desde o antigo cemitério velho chamado de São José (nome também do primeiro bairro de Manaus) – localizado onde atualmente é a sede do Atlético Rio Negro Clube até o Instituto de Educação do Amazonas (local onde seria construído o palácio do governo). Um dado curioso da praça registra que na época do governo provincial do Presidente Francisco José Furtado em 1858, o cemitério foi cercado e a praça não passava de um largo com pouca arborização. Então em 1865, foi proposta pela Câmara Municipal a construção da praça e a proposta de se oficializar o nome de Praça da Saudade.
Num trabalho do setor de Comunicação da Prefeitura Municipal, há um registro de que o nome Praça da Saudade foi dado em julho de 1867, por sugestão do vereador Antônio Davi Vasconcelos Canavarro, apoiado pelos seus colegas João Inácio Rodrigues, Clementino Guimarães, Guilherme Moreira, José Antônio Barroso, Henrique Antony, Francisco José da Silva Ramos e Francisco Antônio Monteiro Tapajós. O trabalho cita que antes a referida praça tinha o nome de 5 de Setembro.
Passou à denominação de praça em 1897, mas só em 1932, de acordo com registros documentais, veio adquirir corpo e forma, na gestão de Emmanuel Morais com a construção de jardins e passeios. O cemitério nesta época já havia sido fechado. Após a demolição, os restos mortais que haviam no local foram transferidos para o São João Batista. Em 1938 teve seu traçado original modificado e seus canteiros foram renovados com a colocação de vegetação exótica, mas as estátuas de bronze que representam o homem primitivo e moderno só foram colocadas em 1963, época em que foram retiradas as pérgolas laterais.
Nas pesquisas que realizei, verifiquei que através da Lei nº 1.477, de abril de 1928, a Praça da Saudade passou a denominar-se de Praça Washington Luis, em ato que foi assinado pelo presidente da Intendência, Sérgio Rodrigues Pessoa.
Depois de alguns anos, exatamente em setembro de 1937, numa das reuniões da Câmara Municipal que funcionava nas dependências da antiga Escola Normal, Quartel da Polícia Militar do Estado, o Intendente Sérgio Rodrigues Pessoa apresentou Projeto de Lei mudando uma vez mais a denominação da Praça da Saudade (embora oficialmente com o nome de Washington Luís) para Praça 5 de Setembro. O projeto aprovado e transformado em Lei com apenas um artigo, portanto, ARTIGO ÚNICO, com esta redação:
“A atual Praça da Saudade passa a chamar-se de hoje em diante e para sempre, Praça 5 de Setembro, revogam-se as disposições em contrário“.
A Lei foi assinada pelo presidente da Câmara, Lucano Antony e pelo Secretário Ranulfo Lima Bacuri. Eram vereadores na época, Luiz Almir do Vale Corrêa, Oscar da Costa Rayol, Augusto César Fernandes, Azemar Damasceno Couto, Sérgio Pessoa, os presentes à reunião. Faltou no dia da aprovação do projeto, o Vereador Cursino Dias Gama. A Lei recebeu o número 225, de 6 de setembro de 1937.
Mesmo depois de aprovada, foram feitas algumas críticas a Lei, condenando, principalmente, as constantes mudanças das nomenclaturas de nossas ruas, praças e avenidas. Na reunião do dia 13 de setembro, sete dias após a promulgação da Lei, o Vereador Sérgio Rodrigues Pessoa voltou a se pronunciar sobre a sua proposição dizendo:
“Meu único fim apresentando o Projeto mandando restabelecer a denominação da Praça 5 de Setembro, que cerca de 40 anos já tinha essa denominação, é que pela Lei nº. 1.477, de abril de 1928, foi substituída para Washington Luís, e pelo Decreto nº 01 de 1930, foi mudada para Getúlio Vargas e que no ano seguinte, pelo Decreto nº 49, voltou a ser denominada de Praça da Saudade, enquanto o nome de 5 de Setembro foi levado para um beco ao lado da Igreja dos Remédios. Este foi o motivo que me levou a apresentar o projeto, hoje lei nº 225, em desagravo a data de maior júbilo para o Amazonas”.
Ao concluir sua justificativa, disse o Vereador Sérgio Rodrigues Pessoa:
“Outro intuito não podia ter, pois desejo seguir as pegadas do benemérito governador do Estado, Dr. Álvaro Botelho Maia, que em carta muito gentil a esta Câmara desistiu da homenagem que a mesma queria prestar-lhe dando o seu nome a uma das ruas do subúrbio desta capital por ser contrário a estas homenagens a pessoas vivas“.
A atitude do Intendente Sérgio Rodrigues Pessoa decorreu em razão da aprovação da Lei nº 1.401, de 26 de abril de 1927, assinada pelo Dr. José Linhares de Albuquerque, presidente da Intendência, dando a denominação de rua Coronel Sérgio Pessoa ao trecho da rua, sem nome, ao lado direito da Igreja dos Remédios.
O nome oficial de praça 5 de Setembro, portanto é em homenagem a data da elevação do Amazonas à categoria de Província e uma homenagem a Tenreiro Aranha que tanto lutou pela emancipação do Grão-Pará. Portanto, o nome oficial nunca se tornou popular. O certo é que mesmo o nome oficial estando inscrito na placa da estátua de Tenreiro Aranha, o manauense a conhece apenas por Praça da Saudade.
Finalmente, a Lei número 343/1996, manteve a denominação de Praça da Saudade.
Hoje o Prefeito Amazonino Mendes reinaugura a Praça da Saudade. A restauração começou na administração do Prefeito Serafim Correa e era um desejo do saudoso Senardor Jefferson Peres de ver a Praça no seu original.
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Amigo Claudemir, em casos como esses, em que não há ao menos vestígios da situação original, o que determina o período a ser recuperado ? O uso atual que a população faz do espaço é levado em consideração ?
ResponderExcluirAproveito para sugerir que se abra um espaço para discussão e esclarecimento de dúvidas relativas aos códigos urbanístico e de construção.
Parabéns pelo blog. Grande abraço.
Arquiteto e Urbanista Heraldo Reis
Caro Heraldo. No caso da praça da Saudade, onde não se tinha nenhum traçado original, buscou o desenho por meio da pesquisa icnográfica, onde as imagens possibilitaram o redesenho da praça. No caso do uso, a mesma estava totalmente descaracterizada, com usos considerados inadequados. Obrigado pela sugestão. Grande abraço.
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