sábado, 25 de fevereiro de 2012

DESCASO SOCIAL


DESCASO SOCIAL, por Yasmin Piazzaroli(*).

A atual campanha da AACD em parceria com a Rede Globo me fez pensar, como pode um país como o nosso, cheio de culturas diferentes oriundas de uma miscigenação tão grande, ainda ter uma indiferença notável quanto aos deficientes físicos? É de sentir vergonha precisar que façam uma propaganda pra chamar a nossa atenção para a situação que cada um de nós causa; eles estão pedindo ajuda e a cada dia tudo o que fazemos é negar este pedido.

E isso não é algo irreal ou “só de televisão”, é presente, acontece em todas as cidades, inclusive na nossa. Pare pra pensar e tente contar quantas vezes você já viu um cadeirante circulando pelas ruas de Manaus ou até mesmo pegando um ônibus? De acordo com a Associação de Deficientes Físicos do Amazonas (Adefa), mais de 14,8% da população amazonense é portadora de alguma deficiência física; são mais de 600 cadeirantes.

Como eles conseguem se locomover em uma cidade com um descaso social tão notório? O governo se orgulha em mostrar para a população a quantidade de faixas de pedestres que ele implantou e como os motoristas “já estão educados”; em partes é verdade, várias faixas foram implantadas e as pessoas já estão mais cientes da preferência aos pedestres, mas em quantas destas novas faixas você vê rampas e passagem nos meios-fios para os portadores de necessidades especiais? Por que essas implantações têm que ocorrer depois das obras terem sido construídas? Por que as rampas só serão feitas (se forem feitas) meses após terem sido instaladas as faixas? Por que deixar para depois algo tão crucial? Até quando vamos esperar?

Na Av. Ephigênio Salles a situação é gritante, são quatro faixas desde o viaduto Miguel Arraes (na antiga Recife) até a rotatória do Coroado, e NENHUMA possui a devida acessibilidade para deficientes, em algumas calçadas ainda encontramos indícios de inclinações para chamarmos de rampa, mas os canteiros centrais chegam a ter quase 30cm de altura! Sem contar as diversas rampas que acontecem no canteiro em alguns trechos sinuosos da avenida ligando nada a lugar nenhum, sem nenhuma faixa ou o contínuo acesso nos meios-fios.

Não pára por aí, encontramos os mesmos problemas em rotas de grande fluxo como a Av. André Araújo e a do Boulevard, sem contar com os incríveis desníveis e obstáculos encontrados nas calçadas. Como estudante de Arquitetura e Urbanismo não posso deixar de observar que falta sim, muito planejamento para a melhora desses acessos, e não adianta, simplesmente, fazer constar nas Normas Brasileiras esses “padrões” e não exigir que sejam implementados em obras passadas, presentes e futuras, falta fiscalização e conscientização de que isso não é uma regra chata para existir somente em projeto e nunca em obra, é uma melhora de vida que gerará inclusão social.

São com esses e muitos outros atos, não só de responsabilidade do governo mas da população também, que tornamos os deficientes “invisíveis” como diz a campanha.

Termino deixando claro que isso não é um texto de crítica e muito menos contra políticos, é somente algo para refletir: "A maior limitação de um deficiente físico não está nele. Pode estar em você".


(*) YASMIN PIAZZAROLI, é estudante de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Luterano de Manaus – CEULM/ULBRA.



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