Por César Maia*
Impregnado pelas políticas de imagem, pelos governos de espetáculo, o urbanismo enfrenta um perigoso processo de decadência no Brasil.
Alfred Agache, arquiteto francês responsável pelo plano urbanístico do Rio (1928 e 1932), criou a expressão urbanismo, foi fundador da Sociedade Francesa de Urbanistas (1911), além de ser uma figura central na institucionalização do urbanismo no mundo.
Para Agache, urbanismo compreende a relação do homem com seu meio nas cidades, as relações sociais nos espaços e com os equipamentos. Desta forma, constrói uma ciência humana, partindo, mas indo além, da arquitetura e agregando outras matérias.
Simplificando, os urbanistas podem ser divididos em dois grupos. De um lado, há os que imaginam que planejamento urbano é pensar como deve ser a cidade, construí-la e depois "convidar" as pessoas a viverem nela. Exemplos: Brasília e Barra da Tijuca (RJ).
De outro, aqueles que entendem a cidade como um organismo vivo, em que as intervenções ou o planejamento urbano devem potencializar sua dinâmica positiva, de forma a multiplicar a qualidade da vida urbana, orientada por sua história e olhando para seu futuro. Além disso, devem desestimular as dinâmicas que desagregam e afetam negativamente a qualidade de vida das pessoas, por intervenções ou legislações.
Nesse sentido, não inventam ou reinventam a cidade, mas partem da lógica de seu desenvolvimento, que tem como eixo seus próprios moradores. É assim que o planejamento urbano e suas intervenções ocorrem sobre um organismo vivo.
Nos últimos anos, surge uma corrente como desvio. Novos urbanistas passam, de fato, a entender a relação entre espaços, equipamentos e seres humanos como unilateral, onde os espaços e equipamentos implantados definem a vida dos moradores. Ou seja: planejamento urbano é fazer projetos, construir espaços e equipamentos.
De certa forma, o ser humano também é "convidado" a usufruir dos elementos criados pelos arquitetos. Esse desvio, ou corrente, ganha na sociedade do espetáculo um vetor que o acentua.
Aqueles que pensam que os espaços e equipamentos definem o comportamento do homem, o excluem do planejamento urbano e pensam seus elementos por sua visibilidade e por seu aspecto escultórico.
Na lógica da imagem, conseguem os espaços coloridos, croquis e maquetes eletrônicas que são divulgados pelas mídias. Impactam, por isso mesmo, o imaginário da população, que é induzida a perceber o urbanismo como sendo essas intervenções.
Sai o urbanismo e entra a lógica do projeto, que está por todo lado nas grandes cidades. Apenas como exemplo, o caso recente do projeto aprovado para o porto do Rio.
(*) César Maia é economista, ex-prefeito do Rio de Janeiro.
FONTE: ACRÓPOLIS.
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