Carta de Apoio a
Preservação e Valorização da Casa Thiago de Mello,
projetada por Lúcio Costa.
Lúcio Costa e o patrimônio.
A sociedade que
destrói o patrimônio edificado perde sua identidade e referências e compromete
o desenvolvimento com vistas a um futuro promissor.
Os critérios para a
valorização de edifícios patrimoniais dependem das circunstâncias de cada
local, dos processos históricos e das expectativas de desenvolvimento com
preservação dos valores ambientais e culturais.
Edifícios notáveis
podem impor sua valorização patrimonial pela própria presença no contexto
social e urbano assim como edificações modestas, porém significativas nos
processos de desenvolvimento social e cultural.
A casa projetada
por Lúcio Costa para o poeta Thiago de Mello, na cidade de Barreirinha/AM.,
constitui uma rara combinação de talentos: um dos mais notáveis arquiteto e
urbanista do Século XX no contexto internacional, e um dos escritores destacados
do Brasil. O resultado edificado de tal conjunção merece respeito e
valorização, não só pelo significado no contexto amazonense, mas pela
transcendência na cultura brasileira.
A casa manifesta o
pensamento elaborado e difundido por Lúcio Costa ao longo da sua vida em
relação aos critérios de racionalidade e adaptação de um projeto ao contexto
cultural e climático.
Os valores da casa
representam princípios universais e transcendentes da projetação arquitetônica
adaptados e condensados nas demandas específicas de Thiago de Mello e do lugar.
A sofisticada simplicidade das soluções espaciais e construtivas da casa de
Thiago de Mello constitui uma lição de arquitetura, cujos ensinamentos,
vigentes ainda hoje, fundamentam sua preservação e valorização. Além do valor
arquitetônico excepcional da construção, a oportunidade de utilização da casa para
fins culturais torna-se também evidente em face da importância nacional do
autor e do cliente.
A obra e a memória
de Lúcio Costa, um dos inspiradores e fundadores do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), devem ser preservadas e respeitadas,
pois o nosso maior mestre e arquiteto trabalhou, com talento e dedicação, pela permanência
dos testemunhos construídos e pela valorização da cultura brasileira.
Outro reconhecido
arquiteto do século vinte, Oscar Niemeyer, sócio e parceiro de Lúcio Costa, elaborou
projetos para muitas cidades do Brasil. Essas edificações prestigiam e valorizam
a cultura dessas cidades.
Portanto, resulta
contraditório e incompreensível admitir interesses movidos para a destruição da
casa do poeta Thiago de Mello, parte inestimável da obra do renomado arquiteto
Lúcio Costa que muitas cidades ficariam orgulhosas em possuir.
As recentes
demolições de edifícios de interesse patrimonial em diferentes cidades do
Brasil têm motivado a reflexão acerca de ações danosas, que provocam perdas
irreparáveis para a memória social e a identidade cultural. Movimentos sociais
e reivindicações profissionais e acadêmicas têm se tornado habituais na defesa
dos valores da cultura brasileira.
Os prováveis
interesses em demolir a casa do poeta Thiago de Mello levam o Instituto de
Arquitetos do Brasil a promover a necessária reflexão, de modo a estimular
ações orientadas à preservação e integração deste patrimônio à vida cultural da
cidade. Decisões neste sentido significarão uma contribuição de inestimável
valor para a cultura brasileira.
Petrópolis/RJ, 8 e 9 de Novembro de 2013.
Instituto
de Arquitetos do Brasil
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